Olá! Eu sou a Fló, tenho 31 anos e era advogada.
Há cinco anos minha vida se resumia em ir ao escritório, cumprir prazos, treinar e pagar as contas. Nunca gostei da minha profissão, mas era isso o que mantinha minha independência financeira, já que gostava da liberdade em morar sozinha. Eis que, ao passar por problemas pessoais e estar com o lado emocional completamente desestabilizado há meses, senti um nódulo na mama. Por ter pouca idade e não ter câncer no histórico familiar não fiquei preocupada, mas mesmo assim fui a uma mastologista.
Após inúmeros médicos e exames, aos 26 anos, recebi o diagnóstico de câncer de mama de triplo grau negativo com outros pequenos focos de infestação e início de metástase para a axila. Claro que ao ouvir uma essa notícia eu fiquei assustada e, por alguns segundos, enquanto a doutora ainda falava, me ausentei mentalmente da sala para poder assimilar a palavra câncer. Mas na sequência pensei: “Ok, tenho câncer. E agora, o que devo fazer? Qual o próximo passo?” E voltei minha atenção ao que a médica dizia.
Ela me informava que eu teria que fazer os tratamentos mais severos diante da agressividade do tumor (passar da palavra “nódulo” para “tumor” também pesa um tanto, mas, acredite, são só palavras. Não tenha medo de usá-las). O diagnóstico eu já tinha, agora tinha que focar no tratamento.
Incrível como em questão de segundos nossa vida pode mudar completamente. Se as minhas preocupações anteriores eram prazos, defesas e pontualidade, num estalo a vida me traz uma surpresa e me faz enxergar as verdadeiras prioridades: felicidade plena, amor, família. Larguei meu emprego (algo que eu nunca tive coragem de fazer), mudei de cidade, comecei a trabalhar com adestramento canino e simplesmente adorei! Se não fosse o câncer pra me dar um tapa de realidade e perceber que a vida passa como um sopro, eu até hoje estaria advogando, estressada e infeliz.
Mas ainda tinha que passar pela fase mais delicada e dolorida: contar o diagnóstico aos meus pais. Pior do que ter câncer é ter um filho com câncer. Com certeza quem de fato sofre e, se pudesse, trocaria de lugar com você, são seus pais, sua família. Então meu conselho, ao receber um diagnóstico como esse, é que você se acostume primeiro com a notícia, procure ser prático e objetivo, só depois você a repassa aos seus familiares focando sempre no lado positivo. Precisa mostrar que eles não precisam sofrer porque você não está sofrendo.
Não fique se vitimizando, se perguntando o por quê. Se está passando por isso é porque tem forças para suportar. Tenha consciência disso. Saiba que não é em vão. Eu garanto que você vai ter um crescimento enorme como pessoa, vai passar a valorizar o que realmente importa, vai enxergar o mundo e os problemas com outros olhos. E, se levar com otimismo e tranquilidade, você inclusive servirá de inspiração para outras pessoas; que é o que paga qualquer sofrimento que tenha passado.
Chega de ter medo das palavras. Podemos sim falar de tumor, câncer, quimioterapia, mastectomia, sem parecer uma sentença de morte. Tudo só depende de você e da forma que leva o tratamento. Aconselho a não procurar nada na internet. Confie no seu médico e faça o que tiver que fazer. Simples assim. Não é tão difícil quanto parece, basta seguir o protocolo. Nestas horas a prioridade é você. Permita-se a este sentimento. Não há mais prazos, trabalho, contas. Nada mais é tão importante quanto você e sua felicidade. Faça o que for preciso pra alcançar isso.
E, o que antes era muito difícil pra mim, mas que passei a deixar que acontecesse é: deixe que os outros cuidem de você. Seus familiares e amigos estão extremamente preocupados porque te amam demais e querem fazer algo por você. Então deixe que façam. Eles se sentem bem fazendo o bem. Deixe que eles te levem às consultas, que te acompanhem no pós-operatório, e que fiquem ali ao seu lado durante as sessões de quimioterapia, se quiserem. Você tem que ser forte e mostrar que está confiante, mas nestas horas a gente baixa um pouco a guarda e deixa que eles cuidem da gente no que puderem. Claro que você não precisa, mas faça isso por eles.
E, o que antes era muito difícil pra mim, mas que passei a deixar que acontecesse é: deixe que os outros cuidem de você. Seus familiares e amigos estão extremamente preocupados porque te amam demais e querem fazer algo por você. Então deixe que façam. Eles se sentem bem fazendo o bem. Deixe que eles te levem às consultas, que te acompanhem no pós-operatório, e que fiquem ali ao seu lado durante as sessões de quimioterapia, se quiserem. Você tem que ser forte e mostrar que está confiante, mas nestas horas a gente baixa um pouco a guarda e deixa que eles cuidem da gente no que puderem. Claro que você não precisa, mas faça isso por eles.
Hoje, aos 31 anos, após algumas cirurgias, congelamento de óvulos, risco de não poder engravidar mais, mastectomia, quimioterapia, perder os cabelos, cílios, ficar com a pele manchada, perder as unhas e ter gasto muito dinheiro com o tratamento, nada, absolutamente nada disso importa. Estou viva. O cabelo volta a crescer, a pele a gente cuida com cremes e disfarça com maquiagem, os filhos estão garantidos guardadinhos, o dinheiro a gente corre atrás. O mais importante eu já tenho e sempre tive, apenas não conseguia enxergar: amor, família, amigos, paz. Note que eu não incluí a palavra “cura” na lista de coisas importantes. Porque de fato não é. Eu estou curada e não foi a partir disso que passei a ser feliz, mas sim de quando passei a viver um dia após o outro.
Viva o momento! Não se leve tão a sério. Veja beleza nas coisas mais simples. Viaje, adote um cachorro, vá à praia, ligue uma música e dance sozinho enquanto cozinha, deite no chão e olhe a beleza das cores de um pôr do sol, tome um pouco de chuva, ria, sorria. Esta é a beleza de estar vivo! E não de estar curado. Vê a diferença?
E daí se você tem enjoos, se não se sente bonito, se perdeu ou ganhou peso, se tem um câncer terminal, se tem contas a pagar, e daí? Desde quando isso se resume a você? Lembre-se, você é prioridade! De que adianta focar nestas questões e perder as maravilhas de simplesmente estar vivo? E as belezas que o mundo te dá todos os dias e você sequer nota? Você está vivo! Então aproveite! Sinta-se privilegiado, apesar de qualquer pesar. A cura está diretamente relacionada com seu estado de espírito. Se você está bem, confiante, otimista, feliz, tudo fica mais fácil pra você e para os que estão à sua volta.
Meu principal conselho é você se priorizar e buscar a sua felicidade acima de qualquer coisa. Nada mais importa. Seja grato pela oportunidade que a vida está te dando de ver o mundo de outra forma. Leve de forma leve.
Fica aqui um breve relato do que foi a minha experiência com o câncer.
Hoje estou em remissão há cinco anos. Para sempre terei que fazer exames com frequência e terei que retirar meus ovários aos 40 anos. Mas, acredite, há vida após um diagnóstico. E que vida! Espero que esta carta tenha te ajudado de alguma forma. Você não está só. Firme e forte até o fim!
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